Rua Tamóios, centro de Belo Horizonte, 2 de janeiro de 1921. Cerca de 100 desportistas de origem italiana se reúnem na Casa de Itália e fundam a Societá Sportiva Palestra Itália, em um ato que mudaria a vida da capital mineira e de dezenas de milhões de pessoas no decorrer do século.
O Palestra nasceu à sombra dos dois grandes clubes de futebol de BH, já estabelecidos há mais de uma década, e que rivalizavam no Campeonato Mineiro: o América e o Atlético. Por conta disso, a equipe de origem italiana acabou se caracterizando como um clube da classe trabalhadora, já que os imigrantes italianos eram, em sua maioria, operários e moradores do subúrbio da capital. A primeira formação do Palestra Itália, em 1921, teve Nullo, Polenta, Ciccio, Chechino, Américo, Bassi, Lino, Spartaco, Nani, Henriqueto e Armandinho, e bateu um combinado entre Villa Nova e Palmeiras, ambos de Nova Lima, por 2 a 0.
Em 31/08/1942, um decreto federal exigiu a extinção de símbolos de nações inimigas do Brasil, no contexto da Segunda Guerra Mundial. O Palestra foi obrigado então a mudar de nome. Em 02/10/1942, o presidente da entidade, Cyro Pony, anunciou que o clube passaria a se chamar Ypiranga, em alusão à independência do Brasil. No entanto, o time continuou oficialmente se chamando Palestra Itália. Cinco dias depois, uma assembléia com o Conselho definiu que a instituição passaria a se chamar Cruzeiro Esporte Clube, em homenagem ao símbolo da pátria brasileira, a constelação cívica do Cruzeiro do Sul.
Com o Gigante, o Cruzeiro se agiganta
Até os anos 1960, o Cruzeiro carregou o fardo de ser o terceiro time de Minas Gerais, embora já tivesse cedido o atleta Niginho à Seleção Brasileira, por cinco jogos, entre 1936 e 1937. Na primeira metade do século, o Atlético foi hegemônico, tendo conquistado 20 títulos estaduais, contra 12 do América e apenas nove do Cruzeiro.
Em 1965 foi inaugurado o Mineirão. O estádio era público, mas caiu como uma luva para o Cruzeiro, que ganhou visibilidade mundial com o Gigante da Pampulha e o adotou como sua casa. Até hoje, o clube celeste é o time que mais jogou Mineirão e o que mais venceu, além de ter o melhor aproveitamento entre todos os mineiros. Foram 1.546 partidas, com 960 vitórias, 348 empates e 238 derrotas. Os números cravam um aproveitamento de 69,6%. Na Copa Libertadores, o Cruzeiro é temido como poucos quando joga em casa. São 63 jogos, com 51 vitórias, seis empates e somente seis derrotas – uma delas na Arena do Jacaré.
A torcida cruzeirense, que no início era tímida no Mineirão e ocupava espaço pequeno em clássicos contra o Atlético, foi uma das que mais cresceram no Brasil de lá para cá e cravou, inclusive, o recorde de público do Gigante da Pampulha: 132.834 torcedores, na final do Campeonato Mineiro de 1997, contra o Villa Nova.
Junto com o Mineirão, veio um time repleto de craques, como Raul, Tostão, Piazza, Dirceu Lopes e companhia. O elenco foi pentacampeão mineiro e campeão brasileiro de 1966. Era o que faltava para o Cruzeiro se agigantar e entrar de vez no cenário nacional. Na década seguinte, o clube ainda foi campeão da Libertadores e duas vezes vice-campeão brasileiro. Em um dos vices, o de 1974, falhas constantes da arbitragem de Sebastião Rufino e Armando Marques, nos jogos decisivos contra o Vasco, prejudicaram o Cruzeiro, que acabou o campeonato com o maior número de pontos e melhor aproveitamento.
Melhor do Século XX
O crescimento do Cruzeiro em 40 anos foi tão grande que o clube foi eleito, no ano passado, o melhor clube brasileiro do século XX, em ranking divulgado pela Federação Internacional de História e Estatística do Futebol (IFFHS), órgão reconhecido pela Fifa. O time celeste também foi apontado como o sétimo melhor sul-americano do século.
Além dos incontáveis títulos, o Cruzeiro tem também o melhor aproveitamento em pontos corridos da história da Libertadores, entre todos os 130 times que já disputaram mais de uma edição. Outra prova da regularidade celeste são as campanhas em Brasileiros. Se o campeonato fosse disputado por pontos corridos desde a primeira edição, o Cruzeiro já seria pentacampeão: 1966, 1974, 1996, 2000 e 2003.
Principais títulos oficiais do Cruzeiro:
Internacionais:
Copa Libertadores da América – 1976 e 1997
Supercopa dos Campeões da Libertadores – 1991 e 1992
Recopa Sul-Americana – 1998
Copa Ouro – 1995
Copa Master – 1995
Nacionais:
Bicampeão Brasileiro – 1966 e 2003
Tetracampeão da Copa do Brasil – 1993, 1996, 2000 e 2003
Bicampeão da Copa Sul-Minas – 2001 e 2002
37 vezes campeão estadual*
*Incluindo o título de Supercampeão de 2002