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Legado à prova: arenas pouco usadas custam até R$ 150 milhões por jogo


Entre Copa das Confederações e Copa do Mundo, serão 80 partidas de nível internacional disputadas pelo Brasil entre 2013 e 2014. Mas, apesar da expectativa de grandes públicos e alto retorno financeiro, quatro estádios já sabem que receberão apenas quatro desses duelos - e todos da primeira fase do Mundial. A Seleção Brasileira não sobrevoará essas regiões, e a tendência é que times como Espanha, Alemanha e Argentina também não. Portanto, é difícil não se preocupar com o que será feito com arenas como as de Cuiabá e de Manaus quando a onda do evento passar. Numa conta simples, os gastos podem chegar a até R$ 150 milhões por jogo abrigado. Mas os responsáveis locais se antecipam: vão colocar em prática planos ambiciosos.

Confira na tabela abaixo a relação custo/benefício de cada jogo da Copa nos estádios:



CIDADES-SEDENÚMERO DE JOGOSVALOR TOTAL ESTIMADOR$ POR JOGO EM 2014
Cuiabá4R$ 596,7 milhõesR$ 149,175 milhões
Manaus4R$ 533,3 milhõesR$ 133,325 milhões
Natal4R$ 400 milhõesR$ 100 milhões
Curitiba4R$ 220 milhõesR$ 55 milhões
Recife5R$ 494,2 milhõesR$ 98,840 milhões
Porto Alegre5R$ 290 milhõesR$ 58 milhões
São Paulo6R$ 820 milhõesR$ 136,6 milhões
*Belo Horizonte6R$ 684,1 milhõesR$ 114 milhões
Salvador6R$ 591,7 milhõesR$ 98,666 milhões
*Fortaleza6R$ 486 milhõesR$ 81 milhões
*Rio de Janeiro7R$ 859,9 milhõesR$ 122,8 milhões
*Brasília7R$ 671,2 milhõesR$ 95,885 milhões
(*) As quatro sedes destacadas vão receber de três a cinco jogos da Copa das Confederações, o que atenua a diferençana relação entre gastos e utilização dos estádios neste nível de competição



Ambas as capitais citadas não têm tradição de clubes importantes ou mesmo de estádios lotados com frequência. Por isso, no Mato Grosso, o projeto desenhado sob o olhar das autoridades é provisório. O público verá um palco multiuso durante a competição, com o anel completo e capacidade para 43 mil torcedores. Logo depois, se assim definir a empresa que vencer uma licitação em 2013, as arquibancadas atrás dos gols podem ser desmontadas, utilizadas em outra praça do estado e, assim, reduzindo a Arena Pantanal para 25 mil lugares, barateando a manutenção.

- É o único projeto entre as 12 sedes, me parece, que possui esse detalhe. O estádio vai servir em definitivo ou não para outras cidades-pólo. É sustentável, mais inteligente. Trata-se de um evento atípico ao mandato deste governo, por isso não há espaço para correr riscos. E o mais importante: a arena é só o passo para recebermos a Copa. O legado em visibilidade, turismo e infraestrutura que ficará para Cuiabá é marcante. Não há preocupação ou sequer conta em valores. O investimento de R$ 440 milhões (R$ 596,7 milhões, segundo balanço do governo, que considera os acessos ao local) já está sendo recuperado - avisa Eder Moraes, secretário-executivo de Cuiabá 2014.

Além disso, serão injetados aproximadamente R$ 1,2 bilhão em mobilidade urbana, com a introdução do VLT, que está em fase final de aprovação do projeto e tem previsão de entrega para 18 meses a partir do começo das obras. Isso sem contar com 11 hoteis, rodovias que ligam áreas da região que, em pleno século XXI, jamais viram essa facilidade.



- A melhora geral será de 1000%. Estamos muito orgulhosos de Cuiabá - afirmou Marcelo de Oliveira, engenheiro do projeto, que ainda destacou a possibilidade de serem erguidos shoppings, cinemas e restaurantes no estádio, pois "há espaço de sobra".

A Arena Pantanal ficará no lugar do antigo Verdão, o José Fragelli, construído em 1970 e que já não recebia, nem de longe, as 50 mil pessoas de sua origem. O palco estava condenado pela defesa civil e, desperdiçando rios de dinheiro, havia virado alvo fácil de invasões para consumo de drogas e até antro de prostituição, segundo os locais.

Manaus: realismo desde o princípio e palco do Peladão

Diante do empecilho causado pela posição geográfica, entre outros aspectos relativos à política, Manaus crê que cumpriu seu objetivo à risca ao alcançar a Copa. Há clara acomodação pelos quatro jogos apenas. O objetivo, agora, é tornar a região Norte mais visitada não somente por aqueles que desejam conhecer a Amazônia, mas os que buscam investimentos em sua forte zona franca. Quanto ao estádio, os cuidados que têm sido tomados são os de fazer valer, imediatamente após a conclusão do trabalho, a alcunha multiuso do local. Para isso, o coordenador do comitê, Miguel Capobiango, esclarece como fazer.



- Está longe de ser só futebol o que teremos aqui. Há ideias de shows, de colocar a cidade na rota dos grandes eventos mesmo, tudo isso impulsionado pelo que as seleções que estiverem aqui vão divulgar. Nossos camarotes são móveis e vão virar centros de convenções internos, salas de reunião, ateliê de exposições... Carecíamos disso nessa área de Manaus. A questão do valor por jogo é simplória, ele não foi construído com o intuito de investimento. Se pegarmos o número de vezes que o nome da cidade vai se repetir, só em publicidade o retorno será maior do que os R$ 533,3 milhões - indica o dirigente.

A Arena da Amazônia, no entanto, terá capacidade para 44 mil, e dessa forma se manterá. Ainda que os projetos deem certo, fica a dúvida sobre se o estádio encherá com regularidade, para compensar sua manutenção. Atualmente, a média do Campeonato Amazonense não passa de dois mil torcedores por rodada. Na visão de Capobiango, isso é culpa dos clubes e terá de ser resolvido.

- Depende de um profissionalismo maior na gerência dos clubes. É um desafio resgatar a credibilidade, e isso está sendo visto com a secretaria de esportes. Será preciso aproveitar o potencial esportivamente também. Claro que sonhamos com um Fla x Flu, por exemplo. Vasco, Corinthians, São Paulo, todos esses têm torcidas enormes aqui, e vamos tentar viabilizar as vindas. Mas lembro que o "Peladão", o maior torneio de peladas do Brasil, promovido por uma rede de comunicação, reúne até 50 mil pessoas por jogo e é uma opção - destacou.

O Brasil também sediará a Copa América 2015, mas é muito provável que o centro da competição fique entre as cidades já escolhidas para protagonizar os eventos anteriores.

Curitiba e Natal: outros relegados já têm uso certo
Punidos pelo atraso em seus trabalhos, por disputas financeiras ou burocráticas, as sedes de Curitiba e Natal poderiam ter um desfecho melhor na Copa 2014, mas terão de se contentar com o status de coadjuvantes. No caso da Arena das Dunas, aliás, o temor de que o estádio sequer fique 100% pronto a tempo é grande. Já a Arena da Baixada não precisa muito mais do que retoques, uma vez que, jovem, já se consolidou como uma das mais modernas da América Latina. Mas só deu partida à reforma há menos de três semanas, o que não agradou à Fifa.



No entanto, os gastos de R$ 400 milhões de um e R$ 220 milhões do outro, já têm destino certo após o Mundial. Na capital nordestina, o estádio substitui o Machadão e verá partidas constantes de ABC e, principalmente, América-RN, que costumam levar bons públicos. No Paraná, por sua vez, o Atlético-PR controla e manda seus compromissos na Baixada e se beneficiará com as modernizações. O clube, inclusive, dividirá os gastos com iniciativa privada e pública.

Recife e Porto Alegre vão assistir a apenas cinco duelos - incluindo um das oitavas de final. Mas também olharam para o futuro. Enquanto a Arena Pernambuco, erguida em São Lourenço da Mata, município vizinho a Recife, será arrendada oficialmente pelo Náutico - distribuindo os R$ 494,2 milhões gastos -, o Beira-Rio já é do Internacional.



Salvador, Belo Horizonte, São Paulo e Fortaleza receberão seis jogos, e já têm Bahia, Cruzeiro/Atlético-MG, Corinthians e Ceará/Fortaleza para, em tese, garantir o lucro posterior à medida que os palcos puderem ser novamente utilizados, além da renda gerada por quartas e semis, que seguramente terão presença de grandes seleções e garantirão alta rotação em turismo.

Brasília e Rio de Janeiro, por fim, viram ser marcados nada menos do que sete partidas, além da Copa das Confederações - que Mineirão e Castelão também têm. Com o Maracanã, cuja volta é muito esperada, não há preocupação. Já o badalado Estádio Nacional vai trabalhar para não ser esquecido, ainda que cada jogo, só da Copa, ofereça gasto de "apenas" R$ 97 milhões, relação custo/benefício bem mais interessante que a maioria.
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