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Sem tempo para nada, Mancini só pensa em tirar o Cruzeiro do sufoco



Ele chegou como esperança para salvar o Cruzeiro do risco de rebaixamento no Campeonato Brasileiro. Mas, ao mesmo tempo, Vágner Mancini foi tratado como uma aposta pela diretoria celeste, já que, em momento algum, foi garantido no comando da equipe na próxima temporada.

E engana-se quem pensa que o treinador se sinta inseguro por não ter um futuro definido no Cruzeiro. Mancini deixou claro que, se não houver comprometimento dentro do clube, dificilmente permanecerá após o término do contrato, em dezembro.

- Eu mesmo não aceitaria, se fosse mais do que esse tempo de contrato combinado. É preciso que haja uma integração de todos, jogadores, torcida, comissão técnica e diretoria.



Pela primeira vez no futebol mineiro, aos 45 anos, o paulista de Ribeirão Preto é casado e pai de três filhos. Vive sozinho em Belo Horizonte, há pouco mais de um mês e, por conta da atual fase do Cruzeiro no Brasileirão, quase não sai de casa. Não pelo fato de ter receio de encarar os torcedores, mas por se sentir na obrigação de estudar jogos do Cruzeiro e dos adversários nas horas vagas.

Em um raro momento em que não estava em campo, orientando seus jogadores, nem em casa, assistindo aos jogos, Mancini conversou com o GLOBOESPORTE.COM e mostrou, além de ser um viciado em futebol, ter equilíbrio e personalidade, características fundamentais para um líder em um momento crítico.

Bastante pressionado, Vágner Mancini falou sobre os desafios de tirar o Cruzeiro do 16º lugar da tabela de classificação, às portas da zona de rebaixamento.

Você é o quarto técnico do Cruzeiro no campeonato. A pressão sobre você é menor, já que, se cair, a culpa não será toda sua?

É difícil você se tirar da responsabilidade, porque todo mundo que vive no futebol se cobra demais. Não quero nem pensar na hipótese de queda. Tenho certeza que vamos sair dessa. Agora, você tem que ter cabeça fria para saber o momento certo. Me cobro muito para não ter indecisão. A oportunidade de estar no Cruzeiro me foi dada no momento em que, nas últimas décadas, dificilmente vimos. Não posso abrir mão das minhas convicções. Você tem que se manter sempre de uma forma equilibrada para que as coisas saiam da sua maneira.

Seu contrato vai até o fim do ano, e a diretoria do Cruzeiro, em momento algum, garantiu sua permanência em 2012. O que você pensa sobre isso?

No momento em que fizemos o acerto da minha vinda, sabia que seria um grande desafio. Eu mesmo também não aceitaria se fosse mais do que esse tempo de contrato. É muito importante que haja uma integração de todos, que você esteja bem, mas que o elenco, a torcida e a diretoria também estejam bem. Não dá para você olhar para só um lado e achar que foi um bom negócio.

Até que ponto o fator psicológico tem atrapalhado o Cruzeiro?


Acho que, pelo fato de esse grupo de jogadores nunca ter vivido essa situação, de certa forma, afeta um pouco. O emocional segue abalado em função da ansiedade de tirar a equipe do sufoco o mais rapidamente possível. Tem que entender também que estão nessa fase é porque o desempenho de cada um não foi como deveria. O emocional é o fiel da balança. Se estiver bem psicologicamente, vai jogar bem.



Você, como ex-atacante, sofre duplamente com a má fase do setor ofensivo?

Sofro em função não somente daquilo que vejo dentro de campo, mas em função também dos atletas. Sei que o atacante, para estar bem, tem que marcar. A escassez gera uma situação incômoda. Eu tenho visto a luta dos atacantes para melhorar, para aperfeiçoar. É uma luta constante e calhou de, nesse momento, precisarmos ainda mais desses gols. O Cruzeiro vive uma situação desconfortável em termos de pontos. Então, é lógico que tudo fica mais acentuado, mas temos que analisar o time de uma maneira geral. Não falo só de um setor específico. É um conjunto. O Cruzeiro precisa melhorar de uma forma homogênea.

Ano passado, o então treinador Cuca promoveu um encontro entre os jogadores e o nadador paraolímpico Clodoaldo Silva, com o intuito de motivar o time, que brigava para ser campeão. Nesse momento, você prepara alguma surpresa em suas preleções?

Tenho tentado. Já fiz várias coisas, com vídeos, imagens. Tem as visitas de ex-atletas do clube. Aqui, há muitos jogadores vencedores. Fabrício, Marquinhos Paraná, Charles, são atletas vitoriosos dentro do clube. Mas, pela ansiedade em querer tirar o time dessa situação, acabam esquecendo esse lado. Nesse momento, não adianta buscar alguém e depositar nessa pessoa a mudança do Cruzeiro. A mudança tem que partir dos jogadores e, dessa forma, melhorar nosso desempenho.

Muitos falam que o Ceará pode ser o salvador de Cruzeiro e Atlético-MG na luta contra o rebaixamento. Você treinou a equipe cearense no atual Campeonato Brasileiro. O que você pode falar sobre essa queda de rendimento do time nordestino?

Vejo uma equipe que tem dificuldade, como qualquer outra, dentro do campeonato. Quando começa a cair no fim, as coisas ficam mais difíceis. Existe uma oscilação. O Flamengo já ficou dez jogos sem vencer, o Santos também passou por isso, o Palmeiras. Na parte de baixo da tabela, quando oscilam, demoram a voltar. Por isso, acho que o Ceará cai em um momento perigoso. Mas uma vitória muda muito. A cada rodada, o percentual de queda muda. Temos que esquecer os outros e pensar somente em nós.

Já passou por situação semelhante em outros clubes?

Como jogador, algumas vezes, e, como técnico, também. Tive um ano no Paulista em que fomos campeões da Copa do Brasil e lutamos para não cair no Brasileiro. Quem milita no futebol, dificilmente, não viveu essa situação. Pelo equilíbrio do Campeonato Brasileiro, mais cedo ou mais tarde, vai se ver nessa dificuldade. Várias equipes fortes da Série A já caíram. Temos que estar concentrados para que isso não a aconteça. Muitas vezes, ouvimos que é bom cair para revigorar. Não pode pensar assim. A Série B é muito desgastante. Nós temos que pensar na Série A. Temos que pensar na nossa equipe e nesses jogos que faltam.

O Cruzeiro é seu primeiro trabalho em Minas. Como tem sido sua adaptação a Belo Horizonte?

Me sinto muito bem aqui, não só no Cruzeiro, mas em Belo Horizonte. O jeito de ser do mineiro, que recebe bem, que te dá espaço. Isso é muito importante. Dentro do clube, tenho que elogiar o trabalho de todo mundo. O Cruzeiro tem uma estrutura capaz de fazer a diferença. De uma maneira geral, estou muito bem aqui. Tenho certeza que vamos sair dessa situação.

O que você gosta de fazer nas horas vagas?

Eu sou um cara que vive futebol 24 horas por dia. Obviamente, quando saio da Toca, tento dar atenção a meus filhos, à minha esposa. Tento ter uma vida social também porque, senão, viro escravo daquilo que faço, e isso não é bom. Sempre que alguém ultrapassa os limites, lá na frente, vai ter algum tipo de consequência. Mas vou ao cinema, passeio, fico com meus filhos, com minha esposa. Acho que isso é muito importante porque dá um equilíbrio de vida. Mas, certamente, a torcida vai me ver na rua. Sou um cara que não me fecho em casa. Seja na situação boa ou ruim.

Qual é o seu lugar preferido em Belo Horizonte?

Ainda não deu tempo de sair. Muito em função de que tenho assistido a muitos jogos, da nossa equipe e dos adversários. Estou totalmente concentrado nisso. Já dei uma volta em um shopping e fui a um cinema. Mas, nesse momento, meu foco é tirar a equipe do sufoco e tentar fazer com que esses atletas entrem em campo confiantes. Tenho que ser o maior conhecedor daquilo que deve acontecer nos jogos. Eu e minha equipe temos tentado passar todas as informações aos atletas.
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