Para fugir do clima carregado em Belo Horizonte, depois da humilhante goleada de 5 a 1 para o Flamengo, o Cruzeiro decidiu ir hoje à tarde para Atibaia, depois do treino da manhã, na Toca da Raposa. Na estância paulista, próxima à divisa com Minas, o técnico Vágner Mancini, mantido pela diretoria, comandará até sábado cedo os preparativos para o jogo contra o Internacional, domingo, às 19h, na Arena do Jacaré.
A decisão foi justificada também com a necessidade de reunir o grupo por quase uma semana, com um único objetivo: escapar do rebaixamento à Série B do Campeonato Brasileiro. Em 17º lugar na tabela e a pior campanha do returno, a cinco rodadas do fim da competição, o time celeste precisar vencer e torcer por tropeço do 16º, o Ceará. Ontem à tarde, houve atividade apenas para os jogadores que não participaram do vexame no Engenhão ou para os que atuaram poucos minutos no Rio.
Por quatro vezes na história, o Cruzeiro viveu o drama de ser rebaixado, tendo escapado em todas. Em 1984, não houve tanto sofrimento, embora a equipe tenha obtido sua pior classificação: 33ª, entre 41 participantes. No ano seguinte, foi 29º entre 44. Na época, o Brasileiro tinha fórmulas diferentes, por grupos e fases eliminatórias. Em 1994, a Raposa voltou a passar aperto, só se livrando da queda na última rodada da repescagem, ao vencer por 3 a 2 de virada o União São João (SP), em Araras, com gol salvador de Cerezo. O time terminou com a mesma pontuação do rebaixado Remo, superando os paraenses no número de vitórias. O outro que caiu foi o Náutico.
A situação foi tão traumática para o clube que o então presidente César Masci renunciou e o Conselho Deliberativo escolheu por unanimidade como novo presidente Zezé Perrella. Este iniciou história que está para se encerrar 17 anos depois. Ele espera, em nome das conquistas celestes nesse período, não sair castigado com o rebaixamento: “Não mereço”. Vai entregar a presidência em 1º de janeiro a Gilvan de Pinho Tavares, a quem apoiou na eleição de 3 de outubro.
Em 1997, ano em que foi pela segunda vez campeão da Copa Libertadores e disputou o Brasileiro com as atenções voltadas para a decisão do Mundial Interclubes com o alemão Borussia Dortmund, o Cruzeiro viveu novo drama. Conseguiu escapar do rebaixamento na última rodada, em empate com o Santos por 2 a 2 na Vila Belmiro. A Raposa fechou a primeira fase com 28 pontos, dois à frente do Bahia, rebaixado juntamente com Criciúma e Bragantino.
"VAMOS AGUARDAR" Gilvan sabe que o momento é delicado, mas evita repetir o erro das dispensas de Cuca, Joel Santana (principalmente) e Emerson Ávila. Para ele, tirar Vágner Mancini não é garantia de que vá dar tudo certo a partir do jogo contra o Inter. “Podem ser outros detalhes, mas não a mudança de treinador. Mudamos de treinador recentemente e nenhum dos que já tivemos fez o nosso time decolar.”
Muitos no Cruzeiro querem o retorno de Adílson Batista, sem clube desde que deixou o São Paulo em 16 de outubro. Mas ele recebeu dos próprios dirigentes celestes a recomendação de descansar um pouco e depois trabalhar no exterior. Porém, como cruzeirense, se convidado, o técnico, que não deu certo no Corinthians, no Santos, no Atlético-PR e no São Paulo, não abriria mão de fazer história e livrar o time do rebaixamento.
Vaias de longe
Pelo menos 60 torcedores foram ao aeroporto de Confins na madrugada de ontem para ‘recepcionar’ os jogadores cruzeirenses, depois do vexame no Rio: 5 a 1 diante do Flamengo. Mas não conseguiram o que desejavam que era mostrar a revolta e xingar muito, manifestações que estão se tornando normais depois de cada derrota. Só viram os atletas através do vidro (um deles foi quebrado) porque eles desembarcaram por uma área especial, sem contato com o público, e embarcaram em um ônibus estacionado na pista.